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A Função da Teoria no Aprendizado Musical

Conheço um “cara” que toca muito bem, mas nunca estudou nada de teoria!! Aquele “cara” sabe muita teoria, mas não toca nada. Com certeza, se você é músico, já deve ter escutado alguma frase desse tipo. Quer entender um pouco mais sobre essa eterna dualidade entre Teoria e Prática Musical, então fica aí que eu tenho certeza que eu vou levantar alguns questionamentos aqui que podem te ajudar bastante a ter uma opinião um pouco mais consistente sobre esse assunto!!

Nesse post, eu quero falar um pouco sobre esse conflito que se estabelece no estudo da música quando falamos de teoria musical versus prática musical. O objetivo aqui é, simplesmente, levantar algumas questões para que a gente possa refletir um pouco mais sobre o papel desses termos e sua aplicação num contexto de ensino-aprendizagem em música.

Bom, eu acredito a grande maioria dos músicos e estudantes de música têm uma certa percepção de que existe uma lacuna entre o que, de um lado, se chama de Teoria Musical e de outro a prática musical. E a gente pode dizer que essa distância, ao longo dos anos, foi se acentuando muito, gerando inclusive, esses chavões, como estes que eu disse anteriormente no comecinho do texto.

Um primeiro ponto a se considerar é que, quando se fala sobre Teoria Musical, na maioria dos casos, essa teoria musical tem nome e endereço: geralmente estamos falando do estudo da grafia ou notação musical. Sendo que, na verdade, o conceito de teoria musical deveria abarcar o estudo de todo o escopo dos elementos que compõem um determinado Sistema Musical.

Ou seja, todos os assuntos que se relacionam ao estudo da linguagem musical como um todo, também fazem parte dessa “teoria musical”. E como eu disse, essa teoria se relaciona a um sistema específico. Ou seja, é importante termos em mente que, muito daquilo que estudamos, quando tratados à luz de um sistema musical diferente, podem ter outros significados ou até mesmo, nem estarem presentes nesse outro contexto.

Bom, então, já que existe uma relação muito forte entre o que chamamos de teoria musical e o estudo da notação musical, vamos falar um pouco do surgimento da notação musical.

A notação musical causou uma revolução nos processos de transmissão de conhecimentos musicais. Ou seja, pela primeira vez, uma ideia, uma informação musical podia ser transportada em um meio físico, não dependendo só da tradição oral ou da memória para que essa informação fosse transmitida. Fora o fato de que esse conhecimento geralmente ficava circunscrito ao redor dos próprios artistas e professores.

Inicialmente, as primeiras tentativas de simbologia utilizadas não foram suficientes para traduzir de uma forma mais apurada as ideias dos compositores. Com o tempo, o aparato da notação musical foi se sofisticando, principalmente a partir do século XI, com as inovações criadas por Guido D’arezzo, possibilitando aos compositores um maior aperfeiçoamento de suas composições, bem como um maior controle de suas obras.

O fato é que, com o advento dessa nova tecnologia, não bastava a pessoa ter acesso ao material, era necessário que, a partir de agora, ela também fosse capaz de decodificá-lo. Foi nessa época que surge, inclusive, o conceito de “estudos”, que é um treinamento técnico musical específico, baseado na notação musical, dando origem a esse conceito de métodos musicais, onde os alunos se desenvolviam de forma similar a partir do estudo de um mesmo conjunto de partituras.

Enfim, antes, um aprendiz de música concentrava sua atenção na produção do som. Agora, ele também deveria ser capaz de interpretar toda a simbologia criada para representar esses sons. Ou seja, criou-se uma dinâmica na prática do estudante de música, que, a partir de agora, envolvia um processo mais racional do aprendizado.

Mas o que isso tem a ver com essa questão da teoria e da prática musical?

Bom, a partir disso que eu apresentei, podemos perceber que o estudo da grafia musical é uma habilidade necessária para quem estuda música, tendo como base, materiais registrados nesse modelo de notação.

E evidentemente, a execução de um determinado repertório, só seria capaz através desse meio. Além disso, a escrita surgiu da necessidade de se representar uma prática musical já existente. É evidente, que, a criação dessa nova tecnologia, possibilitou um avanço muito grande no próprio desenvolvimento da música. Mas entender a necessidade do estudo da grafia musical tomando como princípio as relações que justificam o seu surgimento, nos ajudam muito a entender que:

1º – o estudo da grafia musical, não é o estudo da linguagem musical em si, embora a grafia represente muitas dessas relações. Ou seja, nós não devemos limitar a “teoria musical” simplesmente ao conhecimento da notação musical.

2º – Nem sempre, a prática musical feita a partir do contato com partituras é a mais efetiva, e uma pessoa que não sabe ler partitura, não significa que não tenha um profundo conhecimento de teoria musical.

Eu vou dar um exemplo. Muitos professores de música defendem a importância do estudo da leitura musical. Até aí, tudo bem. Saber ler partitura deveria fazer parte da formação musical de todo músico. Mas é importante contextualizarmos a necessidade deste estudo para o aluno.

Por exemplo, na tradição do ensino do piano, a maior parte da metodologia de ensino do instrumento está apoiada em materiais escritos. E até por uma questão técnica e idiomática do instrumento, o recurso da partitura no processo de ensino se justifica. Ou seja, estudar piano através de partituras musicais é um facilitador para o aprendizado do aluno.

Agora, vamos pegar o exemplo da guitarra. Quem é professor de guitarra sabe muito bem das dificuldades em se iniciar o estudo deste instrumento utilizando partituras musicais. Por várias razões – adequação do repertório, material didático específico, questões técnicas, características do instrumento. Enfim, no caso da guitarra, o estudo através de partituras torna-se um dificultador do aprendizado. Nesse caso, vários outros recursos podem ser utilizados. Isso não significa que, num determinado momento, o aluno não possa aprender a ler partitura. O ideal é que isso aconteça porque, evidentemente, isso só vai enriquecer a sua formação. Mas, o que eu estou querendo dizer é que no caso da guitarra, esse conhecimento específico – saber ler partitura, não é um limitador no processo de aprendizado do instrumento.

Ou seja, a discussão não é a importância de o aluno saber ou não saber ler partitura, mas, contextualizar a sua relevância em cada situação e em cada momento. E esse pensamento nós podemos expandir para tudo aquilo que estudamos ou ensinamos quando estamos tratando do tema Teoria Musical.

Com isso, eu chego no que para mim é a consideração mais importante sobre esse assunto.

A função da chamada teoria musical é refletir uma determinada prática. Ou seja, a conceituação deve ser justificada a partir da experiência e não o contrário. Quando isso acontece, o aluno reconhece imediatamente a situação e consegue estabelecer um vínculo que possibilita que aquele conhecimento faça sentido para ele. Se existe essa lacuna tão grande entre esses dois polos – teoria e prática, foi porque uma das partes não cumpriu sua função. Geralmente, o que se observa é que, a conceituação não foi capaz de traduzir a experiência, uma teoria que não refletiu efetivamente uma determinada prática musical. Um entendimento que não foi capaz de nos possibilitar desenvolver critérios sobre a nossa própria ação.

Se dermos uma olhada com mais atenção, vamos perceber que aprendemos muita coisa, de uma tal forma, que não nos proporcionou estabelecermos essas relações. São aqueles assuntos que a gente geralmente esquece, ou não sabe muito bem para que aprendeu. E que fique claro que eu não estou criticando o conteúdo. Mas o sentido que ele nos traz.

É muito importante que o ensino musical seja capaz de criar pontes com as experiências dos alunos e não estabelecer vales. Pontes com suas experiências e vivências musicais, experiências do seu cotidiano de vida, social, familiar. A teoria musical deve objetivar no aluno a construção de critérios. Critérios que possibilitem a liberdade das escolhas.

Acesse o vídeo no Youtube a assista à essa aula:

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